O porquê do nosso Blog

Este blogue é o resultado da planificação e realização de uma componente teórico-prática "in loco", realizada no Semi-internato de Santa Clara, na sala dos Coelhinhos, tendo como educadora cooperante Patrícia Vieira.
Constitui-se como elemento de formação e avaliação, no âmbito da componente teórico-prática da Unidade Curricular de Iniciação à Prática Profissional V (IPP V). Tem como objectivo mostrar de que forma conseguimos transpor as aprendizagens desta Unidade Curricular, para a prática.

Enquadramento teórico

A nossa actividade foi dirigida a crianças de quatro anos, optámos por duas áreas de conteúdo que as estimulassem e fossem do seu interesse.
Este é um grupo de crianças que, tal como pudemos observar nas nossas visitas à instituição, tem muito gosto em ouvir contar histórias e desenhar. Sabendo da importância que tem desenvolver a área de Expressão e Comunicação nesta fase, pois é nesta faixa etária que as crianças adquirem as bases essenciais para conseguirem exprimir-se e comunicar cada vez melhor, escolhemos fazer um intercâmbio que permitisse, não só a socialização com elemento da comunidade mas também que lhes possibilitasse o contacto com formas diferentes, daquela a que estão habituados, de ouvir contar histórias.
As Orientações Curriculares (1997) fazem referência à importância dos livros “é através dos livros, que as crianças descobrem o prazer da leitura e desenvolvem a sensibilidade estética” (p. 70).e das diferentes formas de leitura de histórias às crianças “o modo como o educador lê para as crianças e utiliza os diferentes tipos de texto constituem exemplos de como e para que serve ler” (p. 70).
Segundo a Teoria de Desenvolvimento de Piaget este grupo encontra-se no Estádio pré-operatório (± 2 a 7 anos). As características deste estádio, que se referem às áreas que com as quais trabalhámos, são: desenvolvimento gradual da linguagem, desenvolvimento gradual da capacidade simbólica e egocentrismo.
No que se refere à teoria do Desenvolvimento afectivo/emocional de Erikson, encontram-se no terceiro estágio – iniciativa/culpa. A criança já deve ter capacidade de distinguir entre o que pode fazer e o que não pode fazer, a criança experimenta diferentes papéis nas brincadeiras em grupo e imita os adultos.

Caracterização da Instituição

Um pouco de história
Esta Instituição teve o seu início em 1898, com o nome Colégio de Santa Clara e encerrou com a Implantação da República, em 1910.
Reiniciou em 1929, a 3 de Maio, ao cuidado da Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, com o nome de Creche de Santa Clara. em 1932 passou também a ter Escola Primária, que fechou em 1974.
Foi em 1991 reconhecida Oficialmente como Obra Social das Franciscanas Missionárias de Maria, passando a chamar-se Semi-Internato de Santa Clara” – Creche e Jardim de Infância.
O “Semi-Internato de Santa Clara” – Creche e Jardim de Infância, é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, com personalidade jurídica, que funciona no Convento de Santa Clara. Está localizado na Freguesia de São Pedro, concelho do Funchal, no cruzamento da Calçada de St.ª Clara com a Travessa das Capuchinhas.
É frequentado por 225 crianças, dos 2 aos 6 anos, distribuídas por 8 salas, com cerca de 23 crianças em cada sala: 2 salas de 2 anos, 2 salas de 3 e 4 anos, 2 salas de 4 anos e 2 salas de 5 anos. Cada sala tem uma equipa constituída por uma educadora e duas auxiliares da acção educativa. É apoiada por uma educadora da Educação Especial.
A maior parte das crianças pertencem à classe média baixa, pois, embora a sua frequência esteja aberta a todos os estratos sociais, a sua prioridade vai para as famílias carenciadas.
Esta Instituição é regida por um ideário de cariz social, integrado na Obra Social das Franciscanas Missionárias de Maria e “Organiza-se em Comunidade Educativa com todos os adultos que trabalham na Instituição (religiosas e leigos), abrangendo crianças, pais e meio envolvente, numa dinâmica participação co-responsável e criativa”.
O tema do Projecto Educativo Pedagógico é “A criança de hoje, construindo o amanhã”, que foca os valores em geral mas o combate ao consumismo em particular, tendo em conta, tal como referiu a irmã Delina (Directora da Instituição), “o crescente consumismo nos dias de hoje, em que os pais tentam compensar a falta de tempo que tem para estar com eles com bens materiais”.

Caracterização da sala e do grupo de crianças

A sala dos Coelhinhos não é grande mas tem os espaços bem aproveitados. Está dividida em quatro áreas: Acolhimento, Expressão Plástica/actividades, Biblioteca e Jogos.Está decorada com os trabalhos das crianças e com os que são feitos com a colaboracão dos pais.Possui vários quadros de informação: quadro das presenças, dos recados e planificação mensal. Possui ainda alguns painéis em que se podem ver imagens relcionadas com o cariz religioso da Instituição.
O grupo de crianças da sala dos Coelhinhos é heterogéneo. Fazem parte dele 12 crianças do sexo feminino e 11 do sexo masculino, na faixa etária do 3/4 anos. Segundo a educadora cooperante, à excepção das crianças com 3 anos, todas frequentaram o Jardim-de-infância no ano lectivo anterior e, apesar de o frequentarem pela primeira vez, integraram-se com alguma facilidade no grupo. Estas crianças pertencem a um nível sócio – económico médio.
A educadora cooperante referiu-nos também que estas crianças se encontram dentro dos padrões de desenvolvimento sugeridos por Piaget (estádio pré-operatório) e apreendem relacionando com o meio envolvente o que é percepcionado, pois o modo como as crianças aprendem nesta fase é principalmente intuitivo.
Ainda segundo a educadora, é um grupo onde as crianças já demonstram preferência por certos alimentos, gostam de experimentar novos e comem muito bem, são crianças que não demonstram comportamentos fora do normal, estando dentro das características padrão desta faixa etária.
Embora não tivéssemos tido muitas oportunidades para observar as crianças em actividades na sala, foi-nos dito que gostam muito de brincar na casinha das bonecas, onde desempenham vários papéis e inventam amigos imaginários. Também gostam muito dos jogos de construção.
Pudemos aperceber-nos que, apesar de a maioria do grupo ser bastante comunicativa, algumas das crianças têm dificuldade em expressar-se verbalmente. A educadora afirmou que, apesar disso elas demonstram um grande progresso na articulação e pronúncia de algumas palavras e frases.
Em relação à motricidade global está bem desenvolvida em todas as crianças, pois, como pudemos observar nos recreios e nas aulas de expressão físico-motora (nas quais participam activamente), não têm qualquer dificuldade em movimentar-se no espaço, gostam muito de saltar, correr e trepar.
A motricidade fina está já presente, pois podemos observar que dominam a apreensão em pinça e não apresentam dificuldades em manipular os materiais de expressão plástica nem em utilizar os talheres correctamente.
Demonstram um bom relacionamento com os adultos, junto dos quais procuram, sempre que necessitam, segurança, carinho, atenção e protecção.
Foi-nos possível observar que gostam muito de histórias e, diariamente a educadora explora com elas, após o acolhimento um livro de histórias diferente (muitos dos quais são levados pelas próprias crianças).

Planificação

Preparação da actividade

Foi-nos proposto, pela docente da Unidade Curricular IPP V, a realização de uma actividade, a desenvolver no dia 2 de Dezembro de 2009, no Semi-Internato de Santa Clara.
Durante o mês de Novembro começámos a preparação da referida actividade. A primeira visita serviu para nos reunirmos com a Directora da Instituição, a Irmã Delina Castro, recolher dados sobre o seu funcionamento, o Projecto Educativo, fazer uma visita guiada às instalações e, por fim, conhecer a equipa e a sala onde iríamos desenvolver a nossa actividade.
No dia 11 de Novembro visitámos a sala onde iríamos desenvolver a actividade. Esta visita teve como objectivo o primeiro contacto directo com a equipa da sala (educadora Patrícia, ajudantes Tânia e Luísa)e com as crianças. Era dia de S. Martinho e, por isso, a educadora Patrícia queria contar a Lenda de S. Martinho. Sugeriu que fosse a Luísa Sousa a contá-la, pois não se lembrava bem da Lenda. As crianças ouviram atentamente a história e, no fim, falaram de alguns dos valores nela presentes, como a solidariedade e a partilha. Esses valores vão ao encontro do que está a presente no Projecto Educativo Pedagogico e Projecto Curricular de sala. De seguida fomos para o pátio festejar o S. Martinho, à volta da fogueira, onde se assavam castanhas.
Na visita do dia 17 de Novembro, a educadora Patrícia começou por contar uma história às crianças. A seguir estiveram a colocar nas paredes da sala algumas frases que tinham escrito sobre a amizade. Acompanhámos as rotinas dessa manhã, que incluíram actividades livres no recreio, o lanche da manhã e aula de Expressão Motora, na qual participámos. Estivemos no refeitório a ajudar a servir o almoço e, uma vez servido, retirámo-nos para reunir com a educadora cooperante e expor a nossa ideia sobre a actividade a desenvolver. Uma vez que a nossa actividade ia ao encontro do Projecto Educativo e Projecto Curricular de Sala, "A criança de hoje, construindo o amanhã”, foi bem aceite.
No dia 26 de Novembro, levámos uma história para contar às crianças: "O menino perdido". A história estava relacionada com a actividade que pretendíamos desenvolver no dia 2 de Dezembro. Esta uma história que faz parte das memórias do convento embora, das irmãs que ali residem, a única que a conhecia fosse a irmã Isabel, disponibilizando-se para partilhar connosco a sua versão.
É uma história de difícil compreensão, na sua versão original e, por isso adaptámo-la para as crianças. Apesar da sua complexidade as crianças conseguiram retirar delas alguns valores como a partilha, a amizade e a solidariedade. A realização desta actividade foi também uma oportunidade para que todas irmãs a ficassem a conhecer pois, a nossa adaptação foi partilhada com elas pela referida irmã.
Pedimos à educadora cooperante que, na sequência do conto da referida história, orientasse as crianças para fazerem um desenho, com a sua visão do “Menino perdido”. Com esses desenhos elaborámos um livro (composto pelo conto e pelos desenhos elaborados pelos meninos. Tal como pode ver-se na imagem, na capa pode ver-se o Menino, com o vestido feito por nós, em tecido pintado manualmente) que deixámos na biblioteca da sala.


Livro elaborado com desenhos feitos pelas crianças.

A actividade


“Intercâmbio partilhado de histórias”.
Neste sentido, convidámos o escritor Francisco Fernandes para ir partilhar uma das suas histórias com as crianças da sala dos coelhinhos. Elas iriam retribuir com o reconto da história explorada antecipadamente por nós, “O Menino perdido”. Apesar complexa e pouco adequada a esta faixa etária (3/4 anos), considerámos ser pertinente que as crianças a conhecessem, visto ser parte da História da Instituição o desafio e adaptámo-la para a contar às crianças.
Começámos, então, por contar “O Menino perdido” ao nosso convidado, com a ajuda das crianças, tal como era nosso objectivo. Demos o mote e as crianças começaram a relembrar-se e a partilhar os seus conhecimentos, sobre o conto, com o convidado.
Na imagem pode ver-se as criaças a falarem dos valores que aprenderam e explicaram porque são importantes. Para finalizar ofereceram ao escritor Francisco Fernandes uma cópia do livro elaborado com os seus desenhos.
O nosso convidado, na imagem com as crianças, escolheu contar uma das suas histórias, intitulada Duas Estrelas-do-mar e um Peixe Prateado, esta história fala de valores como a amizade, a entreajuda, a partilha e ensina o que é a saudade. No final, distribuímos pelas crianças os personagens do conto(estrelas-do-mar para as meninas e peixes para os meninos) que, antecipadamente, e para perceber se as crianças tinham apreendido a história, o nosso convidado nos tinha pedido para elaborarmos, tarefa que a educadora cooperante fez com agrado, embora nos tivéssemos mostrado disponíveis para tal.
Uma vez que o tema Projecto Educativo é "A criança de hoje, construindo o amanhã”, numa referência aos valores,as duas histórias estão dentro deste âmbito.

Reflexão

Esta actividade foi bastante positiva, na medida em que nos deu a possibilidade de reflectirmos sobre nossa prática Pedagógica. Pudemos constatar que através dos erros aprendemos sempre alguma coisa para fazer com que não voltem a repetir-se no futuro.Com a ajuda da educadora cooperante, que nos apontou as os aspectos positivos e negativos da nossa actividade, foi-nos possível, ver que aspectos devemos mudar, os que podemos melhorar e os que devemos manter, no futuro.
Foi uma experiência muito gratificante no sentido de enriquecer e solidificar os conhecimentos adquiridos teoricamente.

Referências

Erikson e a Teoria Psicossocial do desenvolvimento, disponível em:
http://ava.ead.ftc.br/conteudo/circuito1/Circuito_Novo/Periodo_01/materias_comuns/04-psicologia_da_educacao/bloco1/tema2/erikson.pdf, consultado a 03/01/10.

Ideário da Obra Social das Franciscanas Missionárias de Maria consultado a 17/11/2009.

Projecto educativo e curricular do “Semi-Internato de Santa Clara” – Creche e Jardim de Infância, consultado a 17/11/2009.

Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar. Ministério da Educação 1997.